A maioria dos brasileiros se diz conservadora quando o assunto é dinheiro. Nos investimentosplataforma tigrinho, evitam qualquer possibilidade de perda e aceitam retornos menores para garantir que seu capital não oscile negativamente. Mas essa aversão ao risco desaparece quando o tema é ainda mais crítico: a proteção da própria renda em caso de invalidez, afastamento do trabalho ou a segurança financeira da família.

Imagine um profissional liberal que ganha R$ 20 mil por mês e investe R$ 100 mil. Se ele perde 5% desse investimento, significa um prejuízo de R$ 5 mil. Essa perda pode ser desconfortável, mas dificilmente comprometerá seu padrão de vida.
No entanto, se ele sofrer um acidente ou doença e precisar ficar afastado por seis meses, a perda financeira será de R$ 120 mil — mais do que o valor total investido no exemplo acima. Mesmo assim, muitos não estão dispostos a pagar R$ 15 por dia para garantir esta mesma renda de R$ 20 mil por 12 meses caso fiquem incapacitados temporariamente ou para proteger esta renda mensal por mais de 10 anos caso se tornem inválidos.
O que explica essa incoerência? Quatro fatores podem nos ajudar a explicar mas não justificam o comportamento.
Um dos fatores pode ser o viés da aversão à perda. Nos investimentos, as pessoas fazem de tudo para evitar perder 1% ou 2% do patrimônio. Mas quando o risco envolve um valor muito maior, preferem ignorá-lo a pagar um pequeno prêmio para se proteger. É o mesmo comportamento de alguém que aceita pagar um seguro caro para o carro, mas acha desnecessário proteger a própria renda, mesmo que um carro seja substituível e sua capacidade de gerar dinheiro não.
Outro fator pode ser a ilusão de controle. Muitas pessoas acreditam que têm domínio absoluto sobre sua capacidade de gerar renda e que situações extremas nunca acontecerão com elas. Esse otimismo exagerado as leva a subestimar riscos reais. Estudos comportamentais mostram que tendemos a acreditar que eventos negativos ocorrem mais com os outros do que conosco. Isso explica por que tantas pessoas ignoram a necessidade de um seguro de proteção de renda, mesmo quando os números mostram que as chances de afastamento temporário do trabalho são significativas ao longo da vida profissional.
Existe também o viés da familiaridade. Como a maioria dos brasileiros está acostumada a ouvir sobre perdas no mercado financeiro e não sobre os riscos de incapacidade ou falecimento, há uma tendência a priorizar o que parece mais concreto. O problema é que a perda de capital em um investimento pode ser temporária e recuperável, enquanto a perda de renda pode ter impactos profundos e irreversíveis na qualidade de vida e no futuro financeiro da família.
Outro ponto interessante é o efeito da miopia temporal. As pessoas tendem a supervalorizar o presente em detrimento do futuro, dando mais importância ao dinheiro que sai da conta hoje do que ao benefício que esse gasto pode trazer ao longo dos anos. O mesmo investidor que hesita em perder um pequeno percentual do seu patrimônio no mercado de ações evita gastar um valor mínimo em um seguro de renda, sem perceber que a consequência dessa decisão pode ser muito mais custosa no longo prazo.
Se a lógica dos investimentos diz que o tempo é um aliado para superar oscilações e obter ganhos consistentes, por que ignorar essa lógica ao pensar na proteção de renda? Proteger-se financeiramente não deveria ser visto como um custo desnecessário, mas como uma estratégia essencial para manter a estabilidade e garantir a segurança financeira da família.
Usualmente, quando lemos qualquer argumento que mostre a inconsistência de nosso comportamento, entramos no modo defensivo e desdenhamos: "ele só quer me vender algo". A decisão de proteger a renda não é apenas sobre segurança financeira, mas sobre consistência no pensamento. Se alguém teme perder dinheiro em investimentos e aceita reduzir ganhos para evitar riscos, deveria seguir a mesma lógica para proteger o que tem de mais valioso: a capacidade de gerar renda. O custo da proteção é pequeno perto do impacto de um imprevisto. Afinal, se você não aceita perder 5% no mercado, por que aceitaria o risco de perder anos de renda sem nenhuma proteção?
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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